Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos

— 55 — ça de centenas de seus membros, a American Anthropological As- sociation (AAA) condenou unanimimente “o uso do conhecimento antropológico como elemento de tortura física e psicológica” ante o argumento de que os torturadores da prisão Abu Ghraib poderiam ter sido inspirados pelo trabalho de um antropólogo que sustentou a ideia de que “homens árabes humilhados sexualmente podem se tornar informantes dispostos”. (Stannard, 2007 19 ). Em juho de 2007, o antropólogo Roberto J. González (2007) escreveu um excelente artigo “ Towards mercenary anthropology? The new US Army counterinsurgency manual FM 3-24 and the military-anthropology complex” [“Rumo a uma antropologia mer - cenária? O novo manual de contrainsurgência do exército dos Esta- dos Unidos FM-3-24 e o complexo militar-antropológico”], em que o autor detalha criticamente as contribuições de antropólogos na elaboração do manual citado. González demonstra inclusive que al- gumas destas “contribuições” não são inovadoras do ponto de vista da teoria antropológica, e parecemmais um “simplificado livro-tex - to introdutório de antropologia – embora com poucos exemplos e sem ilustrações”. (González, 2007, p. 15, tradução nossa). A antropologia mercenária estadunidense se caracteriza pela beligerância e o cinismo com que justifica a estreita colaboração entre antropólogos e militares em guerras imperialistas que violam os direitos humanos mais elementares e os princípios fundadores da Organização das Nações Unidas. Uma de suas mais aguerridas defensoras e autoras intelectuais é a antropóloga estadunidense Mont- gomery McFate, que se impôs a tarefa de “educar” 19 O autor se refere ao documento intitulado Resolution condemning torture and its use by US Forces , aprovado pela AAA em sua reunião realizada em San José California, 2006, p. 1. A esse respeito ver: <https://www.antropologi.info/blog/ anthropology/2006/american_anthropologists_stand_up_agains> .

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