Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos

— 77 — Na segunda parte, “Manuais: desconstruindo os textos de guerra cultural”, examinam-se criticamente os documentos mili- tares vazados ou já publicados, com o objetivo de entender como as novas iniciativas militares e de inteligência buscam controlar as ciências sociais para seus próprios fins nas atuais e futuras mis - sões bélicas. Esses manuais militares concebem a cultura como uma mercadoria identificável e controlável que pode ser usada por estrategistas militares e organismos de inteligência como uma “ala - vanca” para intervir e manipular em seu favor populações inimigas, ocupadas ou resistentes. Price comenta acerca da ausência, nesses manuais, de qualquer tipo de compreensão sobre as complexidades da cultura presentes nos escritos antropológicos, as quais são igno- radas, deixando em seu lugar narrativas simplificadas que reforçam estereótipos sobre vastas regiões da diversidade. As formas mais reducionistas da antropologia são assumidas pelas concepções mi- litares em torno da cultura. O livro oferece comprovação detalhada sobre a falta de escrú- pulos intelectuais e de ética profissional dos antropólogos que par - ticiparam da elaboração do último manual de contrainsurgência ( Counterinsurgency field manual nº 3-24 ), editado pela Universidade de Chicago, os quais plagiam livremente os conceitos de reconheci- dos autores, sem as referências bibliográficas devidas e retirando-os de contexto, o que Price qualifica como “pilhagem acadêmica”. Finalmente, na última seção, “Teorias de contrainsurgência, fantasias e realidades cruas”, o autor considera uma variedade de usos contemporâneos das teorias das ciências sociais e a informa- ção com que contam em apoio às operações de contrainsurgência na chamada “guerra ao terrorismo”, incluindo o treinamento e as políticas das equipes de antropólogos e cientistas sociais que tra- balham no Iraque e Afeganistão.

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