Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos
— 72 — Um dos cientistas sociais participantes do programa no Iraque apontou certeiramente: “Não se pode fazer antropologia na mira de uma pistola”. O guia cultural das forças especiais dos Estados Unidos Por meio do excelente artigo do antropólogo David Price, “The Army’s take on culture” (2010), foi possível realizar a leitura de um documento recentemente vazado pelo exército dos Estados Unidos, Special forces advisor guide (2008b), que reflete, por um lado, os alcances do domínio global intervencionista desse país “operando” na guerra suja – versão Obama – já em mais ou menos 75 nações e, por outro, a renovada influência de conceitos e conhecimentos antropológicos, previamente adequados e depurados para as men- talidades militares, como um instrumento a mais a serviço do com- plexo militar imperialista. Com toda razão, Price considera o do- cumento, sarcasticamente e parafraseando Emily Post, como “um manual de etiqueta da contrainsurgência” que (oh, surpresa!) “ad - verte o pessoal militar de que o mundo inteiro não é como os Esta- dos Unidos” (Price, 2010, p. 57). Tal como seus colegas da academia estadunidense que denun- ciaram o envolvimento de antropólogos – encabeçados por Mont- gomery – como acessórios úteis ou mercenários intelectuais em to- das as unidades de combate das guerras de ocupação neocolonial no Iraque e Afeganistão, Price esclarece que o principal propósito do Guia é instruir os militares para interatuar melhor com outras culturas como assessores, ocupantes ou visitantes. O documento foi elaborado, dessa maneira, para evitar o choque cultural dos frá- geis “boinas verdes”, os quais, paradoxalmente, seguem o lema De oppresso liber (Para libertar os oprimidos), e têm sido denunciados por mais de meio século por praticar e ensinar técnicas de tortura,
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