Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos

— 59 — Esse capítulo, considerado por Price como central, foi escrito pela antropóloga Montgomery McFate, que – reiteramos – é uma das mais fervorosas partidárias da utilização da ciência antropológica na contrainsurgência, a partir de equipes de antropólogos “embuti - dos” nas unidades de combate no Afeganistão e Iraque. Price destaca a falta de ética intelectual, uma vez que “as pre - tenções de integridade acadêmica constituem a base da estratégia promocional do Manual ”, que tem sido elogiado por intelectuais mercenários do Pentágono nos meios de comunicação de massa e em periódicos e revistas como o The New York Times , Newsweek , e outras publicações estadunidenses. Além disso, o Manual tem provocado uma reação de júbilo na mídia militar de outras latitudes. O general brasileiro Álvaro de Souza Pinheiro, 21 por exemplo, o considera “o documento doutri - nário de contrainsurgência mais bem elaborado que o mundo oci- dental já viu até hoje”, informando que “grande parte dos exércitos da OTAN está em processo de reformulação de seus documentos similares, tendo como base o recente manual norteamericano” (Pi- nheiro, 2007, p. 7). Certamente, o Ministério de Defesa Nacional mexicano, atra- vés do Plano México ou da iniciativa Mérida, vem analisando du- rante esses anos o texto dos militares estadunidenses para colocar em dia seus velhos manuais de guerra irregular e melhorar suas campanhas contrainsurgentes em Chiapas e em outros estados da república, agora com antropólogos inseridos – à moda de McFate –, a fim de ajudar os militares a “compreender” a cultura dos “nativos” que se rebelam contra a ordem estabelecida. 21 Esse general orgulha-se de ter participado do ataque final que dizimou a guerri- lha do Araguaia e, em vários momentos, ironizou a Comissão Nacional da Verda- de, inclusive durante seu depoimento a esta. [N. dos T.]

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