Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos

— 20 — são nas ciências sociais, debatendo implicitamente com partidárias e partidários da teoria “pós-colonial”. O colonialismo não resulta, então, em algo preso em um passado remoto nem tem um caráter exclusivamente “narrativo” (através do giro linguístico). Definitiva - mente não. Os projetos de recolonizar o planeta não se desdobram unicamente no campo restrito dos discursos e das narrativas. In- cluem também algo “extradiscursivo”: uma proliferação incontável de bases militares em territórios estrangeiros e mais de meio mi- lhão de soldados estabelecidos igualmente fora das fronteiras dos Estados Unidos. Essas bases militares estadunidenses, que se espalham por todo o planeta, combinam – explica-nos o antropólogo mexicano – as velhas e desafiantes cidades fortificadas ( bunkers ) com o arame farpado e inclusive com a bandeira estadunidense; escandalosos enclaves que violam a soberania de outros Estados-naçção, com as bases “lírios d’água”, pequenas, flexíveis, camufladas, muito mais difíceis de detectar, mas não menos letais para os povos rebeldes e seus movimentos sociais da periferia do mundo capitalista. A mun- dialização neocolonial não relega a questão étnico-racial ao museu de antiguidades, mas a coloca em vermelho vivo. Nesse contexto internacional do capitalismo contemporâneo, a contrainsurgência se converte, então, na expressão estratégica, político-militar, mas também comunicacional, midiática, econômi - ca e cultural dessa nova modalidade de imperialismo neocolonial. Sem o imperialismo mundializado e sem o neocolonialismo não se entende a contrainsurgencia contemporânea. Esta última não é um fato isolado, um “desvio”, um “excesso”, uma exceção, uma excentricidade anômala de um governante “louco” e ensandecido que não respeita as normas jurídicas do Estado de direito. Ela é o modo de ser do terrorismo de estado implementado em escala estatal e mundial.

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