Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos
— 147 — Ambas habilitam o cenário bélico exigido pelas dominações auto- ritárias, facilitando as formas mais radicais de violência repressiva. A guerra antiterrorista permite manter e expandir a nova ordem mundial, enquanto a chamada guerra contra o crime recorre a uma reorganização jurídica e penitenciá- ria que leva ao crescente confinamento de pessoas, especialmente jovens e pobres, por causa da supos- ta segurança interna dos Estados. Ambas as guerras se entrelaçam, constroem-se e são coordenadas pe- los poderes centrais – sejam esses estados-nação ou organismos estatais supranacionais – e são instru- mentos úteis para a reorganização global. (Calveiro, 2012, p. 15). Os aspectos mais importantes desta reorganização hege- mônica, segundo Calveiro, são: a passagem de um modelo bipolar para um global, ambos com um forte componente autoritário; na economia, a acumulação e concentração neoliberal dentro de um mercado globalizado; na política, o enfraquecimento da autonomia do Estado-nação e o desenvolvimento de redes de poder estatal- -privado de caráter transnacional, bem como o estabelecimento de democracias procedimentais; no social, a incorporação de tecno- logia – especialmente de comunicação – que modifica o tempo e o espaço; no subjetivo, uma individualidade suave, isolada, que se retrai em direção ao privado, como esfera de consumo de bens e de corpos. Tudo com um uso importante e diferenciado da violência, articulada com as novas formas do político, social e subjetivo. Esta autora afirma que as guerras sujas do século XX prefigu - ram certos modos repressivos do mundo global atual, com os Esta- dos Unidos à frente e com a imposição de um Estado de exceção que articula uma rede repressiva legal com outra ilegal, em que se vai conformando um Estado criminoso.
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