Estudando a contrainsurgência dos Estados Unidos
— 101 — Coalizão é outro dos eufemismos que o manual adota para encobrir midiaticamente as incursões neocoloniais dos Estados Unidos e de seus aliados europeus como as executadas no Iraque e Afeganistão. Tornar realidade o apoio a estas coalizões é uma tare- fa adicional a ser estudada pelas forças especiais estadunidenses, para a qual se considera muito importante uma compreensão pro- funda da área (a ser invadida) e da gente que ali vive, “orientação regional, consciência cultural e habilidades no manejo de outras línguas são necessárias para cumprir com êxito a missão” (United States, 1994/2003, p. 1-18). O manual traz ainda um apêndice sobre considerações legais, as quais especificam que as operações das forças especiais deveriam ser conduzidas de acordo com as leis internacionais e as que regem tais operações em território estadunidense. São mencionadas espe- cificamente as quatro Convenções de Genebra de 1949, que proveem a fonte primária dos direitos e obrigações das pessoas envolvidas em conflitos internos ou não internacionais, demandando um trato humanitário aos prisioneiros, feridos e enfermos e, proibindo o uso da violência em qualquer de suas formas, em particular o assassina- to, a mutilação, a tortura, os tratos cruéis e degradantes, a tomada de reféns, as execuções extrajudiciais e os julgamentos sem o devi- do processo legal. Estas exortações resultam retóricas e profunda- mente contraditórias com as realidades de grosseiras violações aos direitos mencionados nas inumeráveis guerras contrainsurgentes e operações encobertas levadas a cabo no mundo inteiro pelas forças armadas estadunidenses. Mais, o apêndice recomenda a busca de um acordo internacional que garanta a imunidade diplomática para suas tropas nos países onde estão “estacionadas”. Isto é, impunidade total para o exercício efetivo do terrorismo global de Estado.
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